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Vinho do Porto




Neste mês de Junho, festejamos o Dia de Portugal e também festejamos Portugal no Europeu de Futebol. Talvez seja isso que me tenha inspirado a ver o nosso país com mais amor-próprio.

Nem sempre somos estimulados a amar a nossa Nação: há uma falta de consciência histórica misturada com teses políticas. (Acredito que, nos últimos anos, existe uma agenda ideológica que tenta reescrever a história e destruir estátuas.)

Portugal é um país com uma cultura fascinante, um país europeu com os olhos postos no Novo Mundo, nas Américas, em África, na Índia… Essa abertura é fantástica em termos gastronómicos: temos comida cheia de sabor, de especiarias… uma comida divertida.

Contudo, hoje, por esse sentido patriota, decidi escrever sobre o nosso grande ex libris: o vinho do Porto.

O vinho do Porto não é só um símbolo do nosso país, é peça fundamental na nossa história, na nossa economia e até nas nossas relações diplomáticas. É um vinho que nos dá muito orgulho. Da paisagem dos barcos Rebelo pelo rio Douro até às caves em Vila Nova de Gaia, as vinhas… toda uma imensa envolvência sensorial até se chegar a um copo de vinho do Porto.

Feito com as principais uvas do Douro (Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz), as mesmas uvas do vinho seco, mas com um processo de vinificação diferente: interrompendo a levedura, a que se acrescenta aguardente vínica. Este procedimento faz que este vinho seja mais doce e mais alcoólico, ou seja, torna-o um vinho fortificado, para se ir bebendo e degustando com calma (mas também existe quem aprecie algumas harmonizações de vinho do Porto em refeições mais pesadas).

Ao explorarmos o vinho do Porto, encontramos várias classificações: o mais básico é o Ruby (mais frutado, pois envelhece em barricas grandes de carvalho); em seguida, o Tawny (envelhece em barricas menores, é menos frutado e com mais traços oxidativos); depois vêm o Reserva, o LBV (Late Bottled Vintage), o Tawny acima dos 10 anos, a Colheita e, por fim, o Vintage (sendo estes últimos os mais complexos). Vale a pena provar e experimentar as diferentes classificações, conseguir distinguir os aromas: esse conhecimento não só nos enriquece culturalmente como nos dá educação do paladar.

No entanto, quando penso em vinho do Porto ou em vinho do Douro, tal é indissociável da imagem de Dona Antónia Adelaide Ferreira, uma heroína portuguesa (que, na minha opinião, é muito pouco estudada). Para mim, enquanto mulher e portuguesa, Dona Antónia, ou a Ferreirinha, como era carinhosamente conhecida, é um exemplo de resiliência, de amor à terra e às pessoas, de carácter forte e de um coração bondoso.

A vida da Ferreirinha daria tema não para um artigo, mas para um livro; todavia, há uma história em particular que gostaria de relatar, por achar que pode ser um exemplo para nós, nos tempos que correm.

Para além de Dona Antónia ter lutado contra um governo que não valorizava o vinho português (as compras de vinho espanhol eram elevadas), também demonstrou ser uma forte estratega perante o «imperialismo inglês» sobre o Douro, mas sobretudo destacou-se na luta contra a filoxera. A filoxera é uma praga que surgiu no final do século XIX, e foi a mais devastadora delas para toda a viticultura mundial, incluída a Região do Douro, que na altura estava em ascensão (a devastação da filoxera foi tão forte que algumas castas foram extintas).

Perante esta peste agrícola, que foi o mais grave de todos os problemas no mundo do vinho, o que a aproxima daquilo que estamos a viver com a covid-19 (em outra dimensão, claro), Dona Antónia demonstrou capacidade de superação: foi para o estrangeiro, estudou e conseguiu a solução para o problema, investiu em meios tecnológicos modernizados e em novas plantações de vinha, sempre com respeito pela tradição. Hoje, quando ouvimos as notícias e vemos o desânimo perante a pandemia, podemos lembrar-nos do vinho do Porto e da Ferreirinha, porque há esperança e solução, porque é possível vencer a batalha e porque somos confrontados com a necessidade de espírito de sacrifício, e isso faz-nos mais fortes.

É por estas e tantas outras razões que não podemos perder o hábito de beber vinho do Porto.

Em primeiro lugar, estamos a falar de um produto incrível, de uma qualidade excepcional; depois, estamos a falar da história, e eu até diria, de patriotismo e de responsabilidade. Quando consumimos o que é tão nosso, como o vinho do Porto, estamos a ajudar a economia nacional, enquanto promovemos e mantemos uma tradição que é tão boa: brindar.

Ganhei este carinho ao vinho do Porto com o meu marido. Aprendi que, sempre que seja adequado, podemos e devemos beber vinho do Porto. Foi assim que o Porto tónico apareceu na nossa vida (em substituição do gin tónico, uma bebida culturalmente inglesa). Na nossa casa, temos o orgulho de oferecer vinho do Porto no final de cada refeição, como um complemento à sobremesa, e agora, com a temperatura a aumentar, o vinho do Porto branco.

Façam muitos brindes, ofereçam vinho do Porto, peçam vinho do Porto à sobremesa nos restaurantes. Acima de tudo, tenham orgulho na nossa história, no nosso país, e naquilo que ele produz.


Crónica publicada Diário Insular, 23 de Junho 2021

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