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Projecto Quinto Touro

Atualizado: 23 de jun. de 2021


Artigo publicado Diário Insular. O Campo e a Mesa é uma simbiose magistral e eu sou uma apaixonada por tudo que é produzido no campo português e, claro, mais ainda no campo açoriano.

O projecto Quinto Touro é voltar às origens, voltar à simplicidade das coisas boas da vida. Na minha opinião, as incertezas do mundo são superadas com o ar puro, um naco de carne na chapa ou com um molho Aglio Olio.

O Quinto Touro pretende ser uma embaixada do campo, da natureza e de uma mesa rural e, obviamente, do pão partido à mão, cheio de manteiga.

Depois do Campo vem a Mesa. Comer não é só matar a fome, é uma experiência cultural e artística. O prato típico de cada região (desde as especiarias, a carne, os legumes…) é a história do seu povo. É uma expressão de trabalho, de fome, do clima, de criatividade, leva-nos aos descobrimentos portugueses e até fala de fenómenos naturais.

Um dia uma amiga ofereceu-me o mítico caderno preto da Moleskine e disse: "Vá, agora escreve sobre comida!" Assim começou o Blog Quinto Touro sem pretensões. Hoje inauguramos estes artigos no Diário Insular, na ilha do verdadeiro Quinto Touro, que pretendem ser semanais. Vou escrever sobre comida e vinhos (sempre aberta a sugestões).

Estes artigos são escritos com entusiasmo e hoje o nosso entusiasmo veio com as saudades. As saudades da normalidade: talvez o maior dom deste vírus chinês foi ter tornado a normalidade uma coisa extraordinária.

Tenho saudades de comer num restaurante apertadinho, sentir o calor humano como um abraço em grupo. Era tão desagradável e hoje seria tão bom! Tenho saudades das tascas das Sanjoaninas. Tenho saudades de ficar em lista de espera para jantar. Tenho saudades de jantar depois das 22h porque não havia lugar mais cedo. Tenho saudades dos botecos de Sevilha, com as mesas altas no meio do passeio, a impedir a passagem, com os copos de cerveja vazios e com espanhóis a falarem naturalmente aos berros. Tenho saudades de chegar ao Cais de Sodré e dividir a mesa com turistas mal-humorados. Tenho saudades de comer ao pequeno-almoço pizza de beringela al taglio, sentada na sargeta da cidade de Roma. Tenho saudades de pagar 5€ por uma simples croqueta no Mercado de San Miguel em Madrid. Tenho saudades de dividir cocktails (sim tudo a beber no mesmo copo) no Hard Rock Café.

Nos take-aways não há Roma nem Sevilha; não há Lisboa, nem Sanjoaninas; nem há abraços… E eu tenho tantas saudades de tudo isso. É por causa dessas saudades que surgem estes artigos sobre gastronomia, sobre restauração e inevitavelmente, sobre vinho. Porque nos dias de festa, nos dias de alegria e também nos dias tristes, eles estavam lá, os nossos restaurantes preferidos, o bom copo de vinho e a receita da avó. E hoje são eles que precisam de nós. Crónica publicada Diário Insular, 1 de Maio 2021

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