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Vinho verde para uma festa verde

Depois de vos ter prometido continuar a escrever sobre estes vinhos “filhos ilegítimos”, juntei a alegria da quase festa verde de ver o meu Sporting campeão (digo quase porque este artigo foi escrito antes da confirmação, como até ao lavar dos cestos são vindimas…). Era inevitável, que o tema do artigo desta semana tinha de ser sobre o vinho verde! Uma simbólica forma de festejarmos a mais que esperada vitória dos Leões.

(Um aparte, porventura um pouco sem sentido, mas quando ouço “vinho verde” penso logo nas músicas tradicionais e no folclore do Minho, talvez seja uma das provas da popularidade deste vinho…)

Durante muito tempo, o vinho verde na minha vida era algo que me transportava para o passado, mais propriamente para as minhas primeiras saídas à noite.

As nossas primeiras saídas começavam com os famosos jantares na Cervejaria Moka. Era o grupo de amigas do Basquete do Boa Viagem: a Mariana e a Fabiana, a Pipita e a Xénia, entre muitas outras que iam passando por ali. Eramos um grupo de raparigas emancipadas e muito seguras de si: mas o menu era sempre o mesmo e o vinho também.

Sei que não serei a única a ter presente, nas primeiras míticas saídas à noite, a memória de uma mesa com muitas garrafas de Casal Garcia, foram tantos que cometeram esse delito, mas também foram muitos os que voltaram para bom caminho do vinho (a juventude é assim... mas a vida vai dando a capacidade de distinguir a ideologia totalitária e um vinho com excesso de anidrido sulfuroso).

Foi no tempo que ainda se podia fumar enquanto se comia, no tempo em que o poupar era mais precioso do que a qualidade, que entrou o vinho verde na minha vida. Infelizmente foi também aí que ficou estacionado durante alguns anos, como uma espécie de a.k.a Sumol para adultos.

Assim, o vinho verde tornou-se essencial neste grupo de amigas que estava a emancipar-se, talvez depressa demais, para a vida adulta. Hoje, aqui, peço desculpas por ter reduzido um vinho com bastante importância para o nosso país a uma bag in box ou a uma garrafa com rolha de xarope: Mea Culpa!

Na altura, não conhecia a beleza das regiões de Monção e Melgaço, não tinha noção que uma das uvas brancas mais famosas do mundo era a Alvarinho (a famosa uva do vinho verde) e não tinha a capacidade para compreender a sua acidez e deixa-la brilhar. O querer beber copos sem compreender o que se bebe, é mesmo um clássico na vida de um adolescente.

Contudo, como sempre, um dia o Francisco ajudou-me a olhar para o vinho verde com olhos de ver (e de sentir) para além do olhar. Em primeiro lugar, precisei de deixar o preconceito e para isso, nada melhor que uma boa tarde de sol num jardim de uma casa beirã. Devagarinho, fui percebendo que nem sempre aquilo que é leve ou simples e descomplicado, não tem por não ser complexo em sabor. Um bom vinho verde é fresco, mas também tem aromas, vida e acidez. E essa filosofia do vinho verde acaba também por definir o produtor do vinho em questão: Dirk Niepoort.

Niepoort, no meu entender, é um produtor que consegue tão bem descomplicar o vinho sem tirar a complexidade do mesmo. O seu verde, Wana Bi é um vinho que me ficou marcado, não só pela sua qualidade, mas pela lembrança de um bom jantar de sushi entre amigos. No meio das incertezas da pandemia, um bom jantar com um bom grupo de amigos e, claro, um bom vinho, é um luxo, sobretudo quando a companhia é a enóloga Teresa Ferrão Pessanha que tanto sabe sobre vinhos. (Acreditem que sempre que janto com alguém que percebe de vinhos tiro mais proveito da própria comida. Essa talvez tenha sido uma das razões pela qual me apaixonei pelo meu marido… e acho que é uma razão muito válida.)

Wana Bi tem aquilo que eu espero num vinho verde: a frescura e o equilíbrio da acidez com uma "doçura discreta". É o Alvarinho a brilhar no copo, numa garrafa elegante com um rótulo arrojado, com a dignidade que o vinho verde merece e que nem a sempre a tem. Wana Bi, naquela noite de sushi, não foi somente um símbolo de um momento feliz, mas foi uma conjugação perfeita do sashimi, do vinho e da amizade. É um vinho bonito e é a minha conversão ao vinho verde.

Despeço-me com a esperança que festejamos o Sporting campeão com o bom vinho verde, porque eles e nós merecemos.

Até para a semana com bons copos e bons petiscos.

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