Wine Time: Poente - Douro
- Dita Cabral de Almeida
- 24 de mai. de 2020
- 4 min de leitura
Quem me conhece sabe que não sou nem de poesias nem de Rosés (não sei se haverá alguma ligação entre os dois?). Sempre fui apologista do romance histórico e do Tinto, hábito de casa (pelos dois avós) e hábito das amigas (pela a minha Brites e a Graça #NúcleoForte). Sempre achei que Rosé era uma "coisa para meninas", (sem ofensas, mas é que o próprio vinho é cor-de-rosa) e só me lembro da mãe, que não gosta de vinho, mas gosta de Rosé.
Eis a pergunta: será que existe um bom vinho Rosé? Sim, há, e vou comprová-lo!
Numa tentativa de me redimir deste passado, quero dar tal importância ao Rosé, que o primeiro texto que escrevo no blog, na rubrica Wine Time - sobre vinhos, será sobre um Rosé: Poente, Quinta da Roga - Douro.

Antes de mais, um pouco de história, ou não seria eu a escrever:
A minha conversão ao Rosé começou no ano de 2018, mais propriamente no primeiro jantar que tive com o Chicão em Lisboa (agora noivo e companheiro de tão boas jantaradas - ou não seria o tal).
Eu tinha escolhido o restaurante, não queria que fosse fancy, mas um lugar relaxado e que servissem cervejas num copo pequeno, fosse giro e barato (sim, é possível jantar em Lisboa num restaurante giro e barato). Fomos ao El Pibe. Bem sei que não é propriamente o lugar ideal para um date, mas tudo o que eu queria é que não parecesse um date. No El Pibe tornou-se impossível jantar sem marcação (contudo, ainda vou escrever sobre aquelas maravilhosas empadas - atenção mas não tão boas como as de Perdiz feitas pelo Chicão).
Assim mudámos de restaurante e fomos ao Luzzo (AQUI), a famosa pizzaria. Ainda esperamos um pouco para ser atendidos, enquanto bebíamos umas cervejinhas. Que saudades destas noites de verão sem covid! Pedimos a pizza com avelã e pancetta (claro, as avelãs). Quando o Francisco escolheu um Rosé para nos acompanhar, achei estanho, mas era o primeiro jantar em Lisboa e eu não queria ser inconveniente. Semanas depois, com o namoro mais sério e estável, voltei a falar do assunto, como fosse um problema por resolver, percebi que ele tinha pedido o Rosé porque achava que era um vinho que todas as mulheres gostam, sempre cavalheiro este homem. Contudo, naquele dia, o Francisco explicou-me uma coisa que agradeço muitíssimo, por isso o meu primeiro texto de vinhos é sobre o Rosé:
Cada vinho é um vinho (redundância?)
É o vinho que existe para cada circunstância, por isso é que há vários tipos de vinhos bons, vários aromas, várias castas... O vinho serve para ti e não és tu que serves para o vinho (acredito que possa haver vinhos tão autênticos que devem ser bebidos sozinhos, mas não é o caso. Aqui falo da simbiose, o escolher o vinho para a refeição).
Percebi que a verdadeira pizza italiana, a massa fina e crocante, faz desta uma comida delicada e, assim, chama o Rosé, para que durante a refeição o vinho não domine nem anule o prato em si, mas o faça brilhar.
Não basta saber gostar de um bom vinho é preciso saber conjugá-lo. Eu, pelos vistos, não sei... mas estou descansada porque o Francisco sabe.
Hoje, sempre que vou a um italiano penso no dia que me converti ao Rosé sem saber. E em Itália, quando festejávamos o aniversário da mãe, em Florença e em Trastevere, festejámos com Rosé, e foi top!
No último fim de semana, quando organizávamos as coisas para o nosso casamento sem festa, decidi fazer ao meu noivo um almoço italiano, com o que tinha trazido na viagem que fiz a Roma.
Não era um almoço qualquer, era uma experiência gastronómica que me levava de volta ao país que tanto gosto, e desta vez o Francisco vinha comigo. Era mostrar ao Chicão o porquê de ser tão apaixonada por Itália. Abrimos um azeite de trufas comprado em Florença, experimentámos o tomate seco e as especiarias do Mercado Campo di Fiori, comemos burrata com tomate alongado, parmesão, muito parmesão, e o molho de napolitano da Barilla com um macarrão al diente.
O Francisco deu o vinho, aquele que é para ele o melhor Rosé: Poente - do Douro.
A exigência era muita, o vinho tinha de ser especial, porque era uma comida especial.
Servido à temperatura ideal, este Rosé surpreendeu! Confesso que (ainda) não sei descrever e distinguir os aromas do vinho como uma enóloga ou como uma politica, mas sei quando gosto, porque é quando ele se torna um complemento de uma boa refeição, é quando a garrafa vai ficando vazia sem esforço, um vinho leve que deixou brilhar as especiarias e que me converteu de novo ao Rosé #VoltaChicãoETrazOPoente!
Muito Bom: Ser um vinho leve, fresco o que se quer num Rosé.
Bom: A imagem do vinho. Quem me conhece sabe que aprecio muitíssimo os rótulos, as garrafas e a forma como fazem comunicar o vinho, gostei desta imagem não só por ser um aguarela minimalista e bonita da quinta, mas porque deu para imaginar aquele poente.
Preço: €€
Avaliação: *****
PS:
Agora só me falta converter à poesia. Mas estou a fazer o esforço, deixo aqui um dos textos que me acompanhou nesta quarentena (O Coro dos Escravos da Ópera de Verdi, Nabuco - para ouvir AQUI)
Va', pensiero, sull'ali dorate.
Va', ti posa sui clivi, sui coll,
Ove olezzano tepide e molli
L'aure dolci del suolo natal!
Del giordano le rive saluta,
Di sionne le torri atterrate.
O mia patria, sì bella e perduta!
O membranza sì cara e fatal!
Arpa d'or dei fatidici vati,
Perché muta dal salice pendi?
Le memorie del petto riaccendi,
Ci favella del tempo che fu!
O simile di solima ai fati,
Traggi un suono di crudo lamento;
O t'ispiri il signore un concento
Che ne infonda al patire virtù
Che ne infonda al patire virtù
Al patire virtù!
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